Sobre o golpinho
Estava eu rabiscando algumas linhas para falar sobre os 60 anos do golpe militar quando, lendo a Folha de S. Paulo, me deparo com um artigo ma-ra-vi-lho-s0 sobre o tema. Desisti na hora de continuar. Depois de ler essa maravilha do Renato Terra, minha inspiração simplesmente sumiu.
Não me restou outra alternativa a não ser compartilhar com vocês essa pérola. Não deixem de ler, está um primor!
Carta aberta para meu golpinho
Receba estes conselhos do sexagenário Golpe de 1964
Renato Terra
Meu querido golpinho, essa sua geração Nutella só quer saber de lacração. Ninguém derruba uma democracia xingando no Twitter. Na hora que a borracha comeu, você me vem com mimiminutinha. Valham-me Deus, família e propriedade! Pelos bigodes de Floriano Peixoto! Meu querido golpinho Nutella, você não aguentaria cinco minutos no DOI-Codi.
Já sou um golpe sexagenário e lhe escrevo esta carta aberta com o braço forte. Você tem muito a aprender com os mais velhos. Quem dera ainda fôssemos os mesmos e vivêssemos como nossos pais.
Meu caro golpinho, o mais importante é o seguinte: você tem que mostrar pros empresários que derrubar a democracia é lucrativo. O resto é consequência. Eu botei tanque na rua só pra tirar onda! Naquele final de março de 1964, o jogo estava ganho. O Golpe aqui, com G maiúsculo, já tinha o apoio da elite econômica, dos jornais e de parte da Igreja. Todo esses aí voltaram atrás depois, mas aí eu já mandava prender a porra toda.
Você chegou a apresentar meus números? Era só mostrar quem enriqueceu a partir de 1964. Nosso PIB crescia mais de 10% no Milagre Econômico. A gente soube surfar no êxodo rural e na farta oferta internacional para gerar riqueza astronômica para a elite. É ou não é um milagre ter 10% de crescimento sem ter a obrigação de construir um país? Não deixamos legados de educação, saneamento, segurança, planejamento, nada! E mais: garantimos que o salário dos trabalhadores ficasse duas décadas abaixo da inflação. É o milagre de produzir e concentrar riqueza.
Respeite os mais velhos! Você fica por aí fazendo meme do Brilhante Ustra e se esquece de olhar para nossa longa árvore golpeológica. Eu, sexagenário de 1964, por exemplo, sou filho do golpe do Estado Novo e me inspirei na repressão implacável de Filinto Muller. Você mostrou pra eles quem ganhou dinheiro no Estado Novo? Na República Velha? Você vai ver que é só combinar o golpe com as mesmas pessoas, seu inútil.