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Templos evangélicos crescem 228% em duas décadas e dominam cena religiosa

Que evangélicos estão em franca ascensão no Brasil ninguém discute. Mas como traduzir isso em números?

Um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) chegou a uma fórmula que ajuda a dimensionar essa dilatação religiosa. Em 2021, as 87,5 mil igrejas evangélicas com CNPJ representavam sete em cada dez estabelecimentos religiosos formalizados no país, enquanto católicas eram 11% do total. O restante se dividia entre outras religiões e espaços sem classificação precisa, em grande parte composto por associações comunitárias, beneficentes ou educacionais.

Um salto e tanto em relação a 1998, primeiro ano contemplado na pesquisa. Os locais de culto evangélicos somavam então 26,6 mil, ou 54,5% do todo.

O pentecostalismo e sua variante neopentecostal dominam o bolo religioso. São as pequenas igrejas, “aquelas de bairro”, que puxam o crescimento, aponta a economista Fernanda De Negri, coautora do trabalho e diretora de Estudos e Políticas Setoriais, de Inovação, Regulação e Infraestrutura do Ipea.

Tratam-se de células independentes, com um ou poucos templos, de nomes como Ministério Jesus Te Ama e Igreja Pentecostal Rocha Inabalável Deus É Fiel.

As grandes marcas do segmento são fortes, claro. Só a Universal do Reino de Deus, que De Negri define como “uma empresa com diversas filiais”, tem 6.800 estabelecimentos vinculados a um único CNPJ. A Quadrangular, outra gigante, possui quase 5.000.

Mensurar o agigantamento evangélico tem lá seus desafios. Comecemos pelo Censo, de onde vêm dados mais precisos sobre essa população. As informações mais recentes sobre a base religiosa nacional são do levantamento de 2010 —o IBGE ainda não divulgou esse recorte a partir do Censo 2022.

O que o Ipea fez foi usar dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho e Emprego. Levou-se em conta, portanto, pessoas jurídicas inscritas na categoria “atividades de organizações religiosas”.

Como a Rais joga tudo no mesmo pacote, sem especificar a qual religião cada CNPJ corresponde, foi preciso apelar a um algoritmo que filtrasse os nomes dos estabelecimentos. Exemplo: para identificar igrejas evangélicas tradicionais, peneirou-se termos como “metodista” e “anglicana”, e para pentecostais, combinações como “Assembleia de Deus” (o maior galho evangélico do país) e o próprio título “pentecostal”.

e Negri reconhece alguns buracos metodológicos a se considerar aqui, já que muitas igrejas nanicas espalhadas pelo país operam sem qualquer adesão formal. Coloca-se algumas cadeiras numa garagem mesmo, improvisa-se um púlpito na frente, e pronto. Algo por aí.

Outra imprecisão metodológica ilustra bem as dificuldades crônicas em radiografar o corpo evangélico brasileiro. Formas antigas para categorizar as igrejas tradicionais, ligadas ao protestantismo clássico, não funcionam tão bem para o quadro contemporâneo.

Exemplo: batistas a princípio fariam parte desse grupo histórico. O que dizer, no entanto, de igrejas como a Batista Lagoinha (da família Valadão) ou Atitude (com Michelle Bolsonaro entre os fiéis), que esfumaçam as fronteiras com o pentecostalismo?

Desafio parecido é separar o que é pentecostal e o que é neopentecostal. Basta pensar nos templos sob guarda do pastor Silas Malafaia, comumente visto como líder do segundo bloco por quem é de fora do meio. A Assembleia de Deus Vitória em Cristo, todavia, entraria tradicionalmente na clivagem assembleiana, de DNA pentecostal.

O que dá para cravar com segurança é que os católicos foram os que menos cresceram de 1998 para cá. O número de locais subordinados ao Vaticano saltou 63% no período, enquanto a fração evangélica galopou 228,5%.

Folha de S. Paulo

Foto: Reprodução

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