Timóteo diz na Bíblia que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males e a nota do Sinduscon confirma que o discípulo estava certo
A Pandemia continua expondo as vísceras da sociedade mundial e revelando o caráter de pessoas e entidades notadamente aquelas que representam e manifestam sede e fome incessantes por lucros, mesmo que a custa da vida e da saúde de pessoas.
É o que se pode apreender da nota distribuída pelo Sinduscon, um dos pilares da sociedade capitalista, fincado neste território de tantas dificuldades, cujos membros defendem a moeda com o vigor que Timóteo condena na Bíblia ao afirmar que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”.
Esses fariseus modernos arrotam argumentos que a virulência da doença desmoraliza e da qual têm amplas possibilidades de se defenderem mediante o uso dos recursos que amealham na constate atividade de explorar o próximo, em troca de migalhas, agora mais migalha do que nunca diante das reformas promovidas por esta besta do apocalipse que eles elegeram.
Ao se posicionarem contra as medidas que o Governo do Estado e prefeituras tomaram retiram os capuzes de algozes que envergam na labuta diária de arrancar as tripas dos que precisam do pão de cada dia com o suor do seu rosto.
Essa demonstração de desumanidade e egoísmo, que sempre caracterizaram as classes dominantes desse país, desde quando usavam o relho para submeter os desvalidos, fica devidamente evidenciada no texto que reproduzimos abaixo do jornalista Walter Galvão:
SINDUSCON REVELA A FACE DESUMANA DO SETOR PRODUTIVO
Walter Galvão *
A nota do Sinduscon (construção civil de João Pessoa) criticando as novas medidas (isolamento social rígido) de enfrentamento à pandemia adotadas pelo Governo estadual e Prefeituras da região metropolitana de João Pessoa é um típico panfleto negacionista.
É também uma carta anti-humanista que expressa desprezo total pela vida humana.
O mundo todo descobriu – contemplando o acúmulo de cadáveres – que isolamento e distanciamento social são eficientes contra a Covid-19. Uma estratégia capaz de poupar vidas.
Todo mundo sabe. Menos os bolsonaristas. Eles são contra o isolamento social. Praticam o negacionismo em defesa do vale-tudo de uma suposta lei do mais forte.
Um pessoal que também quer matar as pessoas com cloroquina, remédio para outras doenças que se mostrou comprovadamente ineficaz no combate ao coronavírus.
A nota ostenta uma arrogância de quem se acha a última tubaína do churrasco.
Tenta intimidar as autoridades ao afirmar que “não esqueceremos” o que está sendo feito.
Mente ao dizer que está havendo lockdown (no lockdown ninguém pode sair para o trabalho, ninguém entra ou sai da cidade, não há serviço de delivery, supermercados não abrem).
E mente ao afirmar que a entidade está sendo tratada de forma intolerante pelas autoridades.
No momento em que o País vive o pico da doença, com mais de mil mortes por dia, quando a Paraíba inicia o mesmo ciclo temerário da elevação dos casos, o Sinduscon quer jogar operários na raia do risco radical.
Uma desumanidade.
Trata-se de segmento social, os trabalhadores da construção civil, sem recursos para fugir de avião em busca de tratamento em centros maiores caso a contaminação leve o sistema de saúde da Paraíba ao colapso.
O sindicato da construção civil desconsidera os riscos e aposta na necessidade de emprego das pessoas. Nesse caso, pratica um misto de capitalismo selvagem (se morrer um, tem dez pra ocupar o lugar) e darwinismo social (quem for mais forte escapa se for contaminado).
Insisto.
Uma desumanidade.
* Jornalista