Unidades da FUNDAC podem repetir a tragédia do Ninho do Urubu, onde 10 adolescentes morreram carbonizados, vítimas da desídia e da imprudência
A tragédia que abalou o país do futebol, em fevereiro do ano passado, quando um incêndio no alojamento improvisado no Ninho do Urubu, CT do Flamengo, matou 10 adolescentes, pode se repetir aqui na Paraíba, já que o mesmo desleixo criminoso se constataria nas instalações da FUNDAC, órgão do Estado responsável pela ressocialização de menores delinquentes.
Instalações precárias, sem qualquer fiscalização dos órgãos competentes como o Corpo de Bombeiros, abrigam dezenas de garotos, entregues aos cuidados de um estado negligente, incapaz de propiciar o mínimo de condições salutares para meninos e meninas sob sua responsabilidade.
Informações de familiares descrevem o “inferno” que seriam as instalações (6) da Fundação no Estado onde uma diretoria relapsa cuida apenas de manter o emprego e cuja desídia pode propiciar uma tragédia de proporções iguais ao Ninho do Urubu, quando a falta de previdência provocou e resultou na morte de 10 pessoas.
As instalações elétricas de unidades como a do CSE em João Pessoa são verdadeiras armadilhas que prenunciam tragédias como a que ocorreu no CT do time mais querido do Brasil e cujos desdobramentos não apontou até o momento nenhum culpado.
Rede elétrica com fios desencapados, gambiarras emendadas com plástico, nenhum plano de contingência contra incêndios nenhum alvará concedido pelo Corpo de Bombeiros, enfim, a reprodução do desleixo que incinerou o CT do Flamengo.
Na última quinta-feira uma rebelião expôs o clima de revolta dentro do CSE localizado em Mangabeira mostrando a situação de precariedade que levou os internos se confrontarem com os agentes penitenciários, quando uma dezena de meninos saíram feridos e pelo menos dois agentes também deram entrada em hospitais, afora a depredação total da unidade.
O registro dessa violência pode ser encontrado em hospitais como o Trauminha de Mangabeira para onde alguns internos foram levados como também pode ser constatada se os órgãos responsáveis por crianças e adolescentes resolverem sair do ambiente refrigerado dos gabinetes e fazer uma inspeção na unidade para confirmar a denúncia formulada por familiares dos internos.
Pelo que dizem familiares dos internos falta de tudo as unidades, em particular em João Pessoa, onde nem mesmo material de higiene é distribuído e os menores escovam os dentes com sabão em pó.
Coisas mais graves já ocorreram e uma menor teria engravidado como consequência de um estupro e uma sindicância teria sido instaurada por insistência de uma das coordenadores, que verificou a veracidade da denúncia, mas esbarrou no zelo excessivo do diretor preocupado com a repercussão do escândalo e mais ainda com os danos que poderia causar a imagem do governador da época, Ricardo Coutinho, e arquivou o procedimento.
Já passa da hora do Ministério Público e Juizado da Infância e da Adolescência comparecerem a FUNDAC para averiguar os fatos denunciados por familiares e passar a limpo o que de fato aconteceu na última quinta-feira, quando viaturas da Polícia Militar foram acionadas para conter a rebelião, que para o diretor, Noaldo Belo de Meirelles, não passou de coisa sem gravidade.
Ou as autoridades paraibanas vão aguardar que aconteça outra tragédia para então tomar as providências a princípio tão corriqueiras como a de verificar se as instalações atendem as recomendações de órgãos como o Corpo de Bombeiros.